domingo, 15 de janeiro de 2012



Baixando um arquivo carregado de saudades da memória.

O Jogo


            Sempre digo que jogos de bola (não de futebol) bons foram aqueles da nossa infância. Havia lealdade que só as crianças sabem ter, jogo limpo, todos éramos craques, mas ninguém queria ser o goleiro.
            Os jogos do passado povoam a nossa memória. Os campinhos não existem mais, foram tomados pelas construções.
            Apesar da simplicidade de todos, valia querer imitar os ídolos da época. Ficava difícil a distribuição dos nomes entre nós, quando tudo se acertava a seleção do Brasil entrava em campo.
            O horário da partida era a qualquer hora, às vezes sofríamos com um sol do meio dia ou com o escuro do começo da noite, não importava. Aquilo que chamávamos de jogo ou pelada era disputada no chão de terra batida ou solta, tenho a impressão que fomos os inventores do futebol na areia. Bastava bater aquela vontade de correr atrás da bola que estava estabelecido um novo campeonato estadual, nacional ou mundial.           
          Alguns jogos duravam quase uma eternidade, como não tínhamos relógio muito menos um cronômetro (que conhecíamos de nome pelo rádio). Algumas vezes o final era determinado pela quantidade de gols do placar bem elástico, exemplo: quem chegasse ao décimo gol ganhava a partida, cujo término se daria naquele exato momento. A “morte súbita”.
            Várias partidas terminaram bem antes do estabelecido, ninguém aguentava tanta correria debaixo de tanto sol. Outro motivo era porque jogávamos bem, muito bem mesmo, bem até demais, então era difícil serem marcados os gols exigidos em defesas recheadas de craques, era um verdadeiro exagero chegar ao gol de número dez.
            Quanto à saúde dos futuros atletas, aqueles jogos serviram para preparação dos que seriam os craques do futuro, que por sinal não ‘vingou’ nenhum.
             Ninguém se machucava. Causa-me espanto hoje lembrando as lambanças, durante anos não houve nem dedo, nem pé nem perna quebrados, só jogávamos descalços. Nada de gripe, insolação, nadinha de nada, só algumas vidraças quebradas e bolas furadas, pois não aguentavam tantos ‘bons de bola’ juntos numa mesma partida. Mas, pensando bem acho que elas não eram fortes o bastante para tantos bicudos que, as faziam estalar.
            Outras coisas: não havia platéia. Não tinha juiz, nem apito, Nunca bandeirinhas. Só futebol, bola e alegria, quase todos os dias, com sol ou com chuva.
            As pessoas que mais sofreram com os tais jogos, com toda certeza, foram nossas mães que quase tinham um ataque quando viam os nossos estados deploráveis, nossas roupas sujas, imundas ou precisando de um remendo. Havia uma lenda que dizia que, algumas, às vezes não reconheciam o filho debaixo de tanta terra grudada na pele e os punha para fora de casa a vassourada.
            Essas partidas são verdadeiros arquivos em vídeo coloridos em nossas memórias, armazenadas para a eternidade dentro de cada um de nós de forma nostálgica e feliz.




Um comentário:

  1. Ah, vc escreve tao bem com tamanha simplicidade que me fez voltar ao tempo e ver meu irmao jogando exatamente assim... e voltando para casa todo sujo! Parabens Celso! Adoro suas cronicas.

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