sexta-feira, 27 de abril de 2012




Saudade

Quando abri a porta do escritório
Sobre a mesa se iluminou
Uma gravura perdida junto às canetas
E uma montanha de papéis que voou,
Que me chamou atenção.
 E estava eu novamente perdido
Entre a porta do coração,
E a do escritório,
No ar podia sentir
Uma saudade indescritível.

Sobre a mesa iluminada
Repousava uma antiga foto
Esquecida, perdida
Quase sem cores, avermelhada
Cor do sangue, do sol,
Das esquisitices da vida
E do esquecimento total
Alienado do qual nada
Se espera só separa,
Uma foto de velhos amigos
E antigas memórias
Presentes no agora. 
Voltei, fechei a porta
Indo direto para a rua

Deixando para trás um tormento
Que assolou o meu mundo
Em um segundo
Naquele determinado momento.

Esse negócio de saudade
Dói e nos cobra, às vezes
De maneira absurda,
Sem nos dar direito a nenhuma defesa,
Age de maneira ilegal pela lei
Mas legal por ser coisa do coração
Porque somos relapsos nos compromissos
Negligentes por pura vontade
De querer esquecer.
E não tem como, a foto está lá.

(do livro Catavento - Celso Antonio dos Santos)

sábado, 21 de abril de 2012





ESCREVER

Eis que alguém vem e pergunta
E ao mesmo tempo exclama: Escrever?!

Puxa vida! Então, o quê fazer?

Sim, Cara amiga e caro amigo,
Escrever!


Posso com franqueza falar
Que quem não carrega essa sina
Maluca e alucinante de algo querer dizer
Não sabe a loucura que é viver.
Pois é! Eis o sonho de todos nós,
Os nossos sonhos - escrever!


Eis o que diz o grande poeta Ferreira Gullar: “Essa é uma aspiração certamente impossível de realizar, mas a poesia é, entre outras coisas, viver, com a ajuda da palavra, o impossível, já que aspirar apenas ao possível não tem graça.”

...

Não é verdade?
...

Timidamente e às vezes às escondidas
Nos pomos a escrever,
E lá vamos nós, com a caneta,
Numa caligrafia hesitante sobre a folha de papel,
Ou dedos nas teclas do computador
Puxamos palavras atadas a outras palavras
E começamos lentamente a tecer
Linha por linha nossas lavras.
Começamos a plantar a nossa árvore favorita,
Carregando-a com os frutos dos pensamentos
Que, tomam as cores, formas e formatos:
De uma crônica, uma novela, um romance ou poesia.
Expelimos o germe que nos corroia por dentro, em desassossego,
Que quando encontra uma luz, uma saída,
Simplesmente nasce forte e sadia,
A qualquer hora, qualquer tempo, lugar,
Em qualquer dia.
É o fruto e o filho do impossível,
Do acontecimento impensável,
Às vezes da criação musical inimaginável,
E da imprevisível necessidade de se fazer arte.
Então, quando terminado, como um pássaro liberto,
Lança-se aos ares. Livra-se dos becos
E faz do voo liberdade – é pura poesia,
Se faz livro e se faz: ‘Delitos Poéticos’.

Parabéns ao jovem escritor e amigo da vida e das letras André Gandolfo... Parabéns!

Celso Antonio dos Santos.
Jales, SP, 21 de abril de 2012.

quarta-feira, 18 de abril de 2012


                                                                                          (Urânia - SP)
SAUDADE...

Mestre Aurélio, por favor, pode definir o que é Saudade?

- Lembranças tristes e suaves de pessoas ou coisas que ficaram para trás, e, que gostaríamos de vê-las ou possuí-las de novo.

Era uma madrugada amena, tinha despertado e ido ao banheiro. De novo deitado procurava reconciliar o sono interrompido. Um apito agudo de trem se encarregou de me despertar de vez. Ao mesmo tempo em que, voltava à consciência comum, fui arrastado ao passado. O apito era do trem e trazia lembranças de tempos idos.

Nasci à beira de uma estrada de ferro, meu pai era ferroviário da Estrada de Ferro Araraquarense. Minha evolução de bebê a adulto, passando de criança a adolescente, transcorreu ao lado do leito da ferrovia, nunca morei, até hoje, a mais de trezentos metros dela.

O apito que ouvi, mais parecia um grito de agonia da velha ferrovia que parece aos poucos se acabar. Lembrei-me das viagens no trem de passageiros, era ele que movimentava a massa humana de um lugar para outro. Eram pessoas que atuavam em diversas histórias, de vários enredos, nas páginas e mais páginas da vida.

O trem transportava os sonhos, alegrias e tristezas, sempre deixando um rastro metálico de saudades nas paralelas dos trilhos que nunca se encontravam e que, ligavam destinos.

O apito do trem que ouvi, não mais transporta os passageiros saudosos e insones, mas cargas que vem do Centro-Oeste do Brasil que tem como destinos várias partes do Planeta. É o progresso, dizem.

Ainda hoje gosto de caminhar sobre os dormentes da linha férrea, porque dá um caminhar vacilante, pois não são de espaçamentos iguais, diversas vezes tenho que refazer o compasso do passo, acertando o andar, como nas situações da vida diária.

É preciso ver que a vida não pode ficar só na estação da saudade. Saudades são lembranças doces ou amargas que ficaram pelo caminho da estrada de ferro do tempo, que às vezes vamos visitar com o coração alegre, sentados numa poltrona da primeira classe.

(Crônica publicada em agosto de 2006 no ‘Informativo CN’ nº. 2, da cidade de Urânia SP)