sexta-feira, 25 de novembro de 2011


Uma desconfiança.

            Recordar é reviver. Relembrar fatos e acontecimentos passados é montar o quebra-cabeça do tempo. 
               Nossas vivências do que éramos quando crianças, embasaram a nossa formação como pessoa e se consolidou no ser adulto que somos.
            O prazer de estudar, de ler, de conhecer aquilo que nos rodeia, sempre esteve presente no ser humano. O prazer de conhecer vem da curiosidade natural e o homem é um inquiridor a todo instante, pergunta sobre tudo e vai atrás de uma resposta que o satisfaça.          
            Atualmente este prazer de desvendar o desconhecido está no fim? Se observarmos atentamente aqueles que nos rodeiam, teremos uma resposta triste, na grande maioria das pessoas este prazer pelo conhecimento, morreu ou está morrendo.
            Não se cultua, ou se cultua é muito pouco, o amor ao sagrado da educação. Hoje, ninguém passa em frente a uma escola e se arrepia em reverência. Foi ali, naquele prédio, numa sala de aula que aprendeu a ler. E aprendendo a ler adquiriu um saber, um conhecimento e pôde então abrir as portas de um novo mundo.
            Ninguém mais quando encontra seus mestres sentem seus olhos se encherem de lágrimas e uma vontade terna de os abraçarem. Ninguém mais exerce o sentimento de gratidão. E, parece que pouquíssimas são as pessoas em nosso país, preocupadas com a escola, com os jovens, com o quê se ensina e se aprende nas salas de aulas.
            Existe em mim uma desconfiança que, nem todo jovem têm interesse em aprender. Muitos estão preocupados com imediatismos e modismos, fazendo da escola obrigatória e funcionários, os seus sacos de pancada por tomarem o seu tempo. Depredam as paredes e os vidros, sujando-as, quebrando as cadeiras e carteiras, enfim, enfeiando aquilo que deveria ser um lugar de respeito e que deveria ser um lugar sempre limpo.
            Mas o que mais dói, é a mais completa falta de respeito àqueles que ali estão para ensinar, passar conhecimentos. Meros fantoches, que às vezes estraçalham suas cordas vocais pelos berros para tentarem se imporem, tentar restaurar a autoridade usurpada de maneira leviana e inconsequente.

            A verdade é que se instala nas escolas, infelizmente, a cor de uma nova era que está nas mãos dos estudantes, são jovens e serão os adultos responsáveis pelo bom futuro dos seus filhos e netos. Se assim continuar, o quê eles quando forem adultos terão para se recordarem?


sábado, 19 de novembro de 2011



O LIVRO DO DESTINO


Você já ouviu: quando nascemos somos um livro de páginas em branco a serem preenchidas. Ou, tudo está devidamente escrito, mas alteraremos no uso do livre arbítrio. Ou, nada sabemos, somos uma tábua rasa, aprenderemos.

Ou como no filme ‘Os agentes do destino’: o livro está escrito, os caminhos foram criados pelo Divino, e Este e os seus agentes ‘anjos’ poderão se necessário, redesenhá-lo.

O Livro do Destino é uma metáfora nos ensinamentos de diversas tradições que transmitem valores positivos.

O buscador sincero sabe que a alma humana não pode se desvincular do seu destino cósmico. Há o decreto divino: a todo instante é nosso dever buscar aproximarmos da Perfeição, da Inteligência Divina. Levaremos diversas vidas para atingi-la, mas teremos que alcançar tal estado, queira ou não. Tal empreitada é difícil, no desenrolar da vida ‘temos o direito e o dever de escolher o caminho que tornará esse retorno possível’ (Christian Bernard, estudante rosacruz). Agindo com retidão estaremos aptos a ‘aplicar positivamente nosso livre-arbítrio às situações que se apresentam diariamente na nossa existência’. Escreveremos assim as páginas de uma história feliz.

Malba Thahan (Júlio César de Mello e Souza) nos legou um conto maravilhoso, verdadeira parábola: ‘O Livro do Destino’ no seu livro ‘Céu de Allah’.

...O narrador encontra perto de Damasco um velho árabe, chama-lhe a atenção o modo como ele falava aos mercadores e peregrinos. Gesticulava e praguejava sem parar. Quando censurado, exclamava ‘apertando entre as mãos o turbante esfarrapado: Mak Allah! Ó muçulmanos! Eu já fui poderoso! Eu já tive o Destino nesta mão!’

Ninguém acreditava, tomavam-no por louco. Ele era de difícil trato, irascível, mas com jeitinho e ternura o nosso narrador ganhou a sua confiança. E ele contou-lhe:

‘Segundo o Corão’... No grande Livro do Destino há uma página para cada ser humano com tudo de bom ou mal que irá lhe acontecer. Aliás, tudo está escrito nele, um registro da vida de todos e de tudo sobre a Terra, ‘desde o cair de uma folha seca até a morte de um califa’.

Certa vez salvei um feiticeiro das mãos de impiedoso beduíno e como recompensa deu-me uma pedra negra, pequeníssima, um talismã raríssimo que permitia a entrada livre ‘na gruta da Fatalidade’ onde se encontra o Livro do Destino.

Durante anos viajei até o alto da montanha de Masirah, local da gruta, guardada por um gênio bondoso que vendo o talismã me deixou entrar, podendo ficar lá alguns minutos.

E eis o Livro, bastava acrescentar na minha página ‘será um homem feliz, estimado por todos, terá muita saúde e dinheiro’.  Mudaria minha vida. Contudo, aventurei a olhar as páginas de meus desafetos e movido ‘pelos mais torpes sentimentos’ de ódio e vingança, acrescentei às suas páginas meu desejo de infelicidade, doenças e tormentos.

‘E na tua vida?’ perguntou o narrador, ‘acrescentou tudo de bom que querias?’

Preocupado ‘semeando infortúnios’ aos outros esqueci inteiramente de mim, quando me dei conta, tinha vencido o tempo, retiraram o talismã e fui atirado para fora da gruta. E hoje sou o que sou!...

Caro amigo, como se dedica a escrever a sua página no Livro da Vida? Cuidas bem de você ou estás preocupado em demasia com a vida dos outros?

(texto publicado no jornal Tá na Mão, Fernandópolis, SP, 19/11/2011)




domingo, 13 de novembro de 2011


‘A arte é uma colaboração entre Deus e o artista, e quanto menos o artista participar melhor’. André Gide.

O ser humano é criativo, somos mestre na arte de criar. Alguns poucos se apercebem de seus dons, enquanto a grande maioria não e sofrem por isso. Somos todos criativos, onde viver, por si só, já exige criatividade a todo instante no aqui e agora, embora não percebamos. Fazemos escolhas para cada situação apresentada pela vida, temos que ser criativos nas escolhas, precisamos saber escolher a melhor.

‘O ser humano é artista atuante no palco da vida’ Ana Gomes, estudante rosacruz. A todo instante cria pontes para o futuro, existe para tanto uma sublime ligação com a Fonte Infinita, um verdadeiro arquivo de tudo existiu, existi e existirá. Vêm desta conexão os lapsos criativos, é quando nascem as obras de artes: poesia, escultura, música, arquitetura, engenharia, literatura etc.

O ser humano ainda não atingiu a sua forma final, ele é um ser em constante transformação, uma ‘obra inacabada’, habitando um mundo que também muda à medida que surgem novas ideias criativas e construtivas. As evoluções do homem e do mundo se iniciaram nos primórdios da humanidade, quando nossos antepassados habitavam nas cavernas. As provas estão representadas nas pinturas pictóricas feitas nas rochas das paredes das grutas. ‘Por volta do ano 40.000 a.C, durante o Paleolítico Superior, os seres humanos realizavam suas primeiras incursões artísticas como, por exemplo, as pinturas rupestres’ José Eliézer Mikosz, estudante rosacruz. Apesar da rusticidade, primitivismo, elas são consideradas as primeiras obras de artes da humanidade. Os primeiros lampejos da criatividade ali estão, são eles os registros na máquina do tempo da história humana.

O vocábulo criatividade tem na sua formação a raiz latina ‘creare’ – ‘dar a luz, engendrar, produzir e pode ser considerada mágica’. O ser criativo está sempre processando uma energia subconsciente que é geradora de um produto final, às vezes, invisível, ou seja, ele era impensável, mas seu talento ou seu dom transforma essas energias em objetos no mundo da matéria, assim como um marceneiro ‘cria’ da madeira bruta os seus artigos ou utensílios. Ou, como o que escultor ‘liberta’ do bloco de mármore um anjo ou um rosto. Sabia conscientemente em seus pensamentos criativos o que procurava sem, contudo saber a sua forma real no mundo objetivo. Aristóteles sabiamente dizia que ‘a finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não é copiar sua aparência’.

O artista em contato com a Fonte sentirá que tal ‘atividade pode inundá-lo com um sentimento de prazer e felicidade de ter feito um trabalho bem feito’, um mestre rosacruz. Verá no seu trabalho final uma obra de arte, a qual por ser de natureza construtiva existe nela uma essência emanada de algum lugar, um nível superior que a torna perfeita. E que tal energia, ou essência passou por ele que a trabalhou com grande prazer. Às vezes alguns artistas encontram o verdadeiro êxtase dentro do seu processo criativo, conseguindo isolar-se completamente. Sentiu que esteve unido com uma Inteligência Superior, Cósmica. É dessa relação que se diz que a arte tem e é uma estreita relação entre Deus e o artista. Ou, Deus trabalhando no mundo da matéria pelas mãos dos homens. ‘O simbolismo e as artes visuais têm sido usados como um meio de ligação ao espiritual desde a mais remota antiguidade’ José Eliézer Mikosz. Conseguem o autor e sua obra expandir mais Luz e mais esperanças para as pessoas. Quem nunca se sentiu ‘tocado’ por uma obra de arte? Se ainda não, experimente ter uma relação mais atenta, mesmo que seja uma simples gravura, uma boa música, uma escultura etc. deixe-se sentir essa atração.

A lei suprema da arte é a representação do belo’, frase de Leonardo da Vinci.  Em qualquer obra a arte deve, como em sua definição primeira, ser aquilo com o que se deseja exprimir, ou fazer manifestar de maneira perfeita a representação do belo. Essa manifestação artística tem que ser envolvente e ‘causar no ser humano um estado de sensibilidade e de atenção ligado ao prazer estético’ – Serge Toussaint, estudante rosacruz, existe uma ligação sensitiva prazerosa na percepção daquilo que é belo, bonito, ou que atenda a nossa noção de beleza dentro do padrão de estética estabelecido.

‘A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível’. Leonardo da Vinci – sintetiza a resposta quando queremos decifrar de maneira racional uma obra. A maneira de se penetrar em uma obra para senti-la em toda a sua grandeza é deixar-se envolver, deixando a mente focada somente no objeto e de preferência perder aos poucos o contato físico com o ambiente ao redor. Somente assim poderá ser captado num vislumbre aquilo que o artista quer dizer, só o nosso eu interior é capaz dessa sintonia fina que poderá dar o significado impresso e exprimido pelo artista.

Certa vez um artista indagado sobre o quê queria dizer com sua obra, respondeu que aquilo que queria dizer era exatamente o que estava representado ali.

Mas também há de ver que certas obras e artistas tentam passar um tom falso. Atualmente vemos florescer pseudos-artistas e obras. Pois, não atendem ao princípio de que arte é representativa da beleza, se preocupam apenas com os modismos passageiros ou formas de expressão criando algo distante do padrão estético, para ser definida como arte. ‘Barulho não é música; borradela não é pintura; trituração não é escultura; pulação não é dança’. Serge Toussaint, estudante rosacruz. Tratam de obras em que só há a participação do homem.


 (artigo publicado no Jornal Tá na Mão -  Fernandópolis - SP - em 21 de agosto de 2011,)