domingo, 29 de janeiro de 2012


AMIGO

                              “Amigo é coisa pra se guardar/ debaixo de sete chaves/ dentro do coração” Milton Nascimento.
                                           Como na música a verdadeira amizade, o amigo, é um grande tesouro que deve receber todo o cuidado pelo seu valor inestimável, trata-se uma raridade ter um. Há certas restrições para um amigo merecer o lado esquerdo do peito.
Dentre todos aqueles que dizemos ter amizade, um ou outro se enquadra dentro da classificação do amigo do coração.

Amizade acontece na convivência pacífica e cordial entre os indivíduos, seguindo as normas de boas maneiras e condutas, o respeito entre si, a civilidade nas relações sociais, para que a vida flua pacificamente sem entraves discriminatórios ou de dominação. Apesar disso, nem todas as pessoas dessa relação social se encaixam no que compreendemos do que seja um amigo.

Segundo H. Spencer Lewis deve-se fazer distinção entre os conhecidos e os amigos.

Na vida o ‘conhecimento entre as pessoas é facilmente estabelecido’ é o tratamento cordial no dia a dia, nos conhecemos em face das diversas atividades exercidas dentro do grupo.

Agora, ‘um amigo deve ser aquele que nos aprecie pelo que somos e, não, pelo que possuímos’ ‘Um verdadeiro amigo deve conhecer-nos o bastante para não se desiludir facilmente por qualquer coisa que possamos ter dito ou feito’. O amigo é aquele que nos conhece com certa profundidade em decorrência de uma longa convivência, um relacionamento fraterno. É aquele que ajuda e não se aproveita dos momentos de fraqueza, apóia na dor ou na alegria sem intenções.

Ponto importante a observar: só conseguiremos ter amigos se formos sinceros, honestos conosco mesmo.

Amizade se concretiza se obedecidas certas características centrais, segundo Keith E. Davis e Michael J. Todd, professores de Psicologia. Listaram as características abaixo que julgam centrais:

Prazer – mesmo quando há desapontamentos e aborrecimentos mútuos, os amigos gostam da companhia um do outro.

Aceitação – os amigos se aceitam sem tentarem mudar um ao outro.

Confiança – “a cola que mantém amigos juntos é a confiança” Mark Bidle.

Respeito – é demonstrar consideração para com os direitos e sentimentos do amigo.

Ajuda mútua – nas fases de desânimo e necessidade os amigos estão sempre prontos para se ajudar e apoiar.

Confidência – eles compartilham suas experiências mais íntimas e seus sentimentos mais profundos.

Compreensão – compreendem mutuamente porque fazem o que fazem, sem se repelirem, o mais importante é a pessoa.

Abertura – ‘cada amigo é livre pra pensar alto sem necessidade de se esconder atrás de um papel superficial’.

Se o seu relacionamento com outra pessoa estiver dentro das características citadas terás então, um amigo. Mas, amizade se faz de maneira mútua, uma rota de mão dupla, é uma condição pétrea, você também deverá ser sincero em pensamentos e sentimentos.

Como diz o poeta Vinícius de Moraes: ‘Eu talvez não tenha muitos amigos. Mas os que eu tenho são os melhores que alguém poderia ter... ’

Ou, ‘um amigo é aquele que vem quando outros estão indo embora’, Walter Winchell.

(publicado no dia 21 de janeiro de 2012 no jornal 'Tá na Mão' de Fernandópolis, SP)




sexta-feira, 27 de janeiro de 2012




Mandalas e a Impermanência
                         Quando, no enlevo da contemplação observamos extasiados, o Grande Pintor do Universo pintando com infinitas variedades a Tela da Natureza, como a conduzir a nossa infantil admiração, sentimos que o Mestre dos Mestres está nos ensinando o caminho da evolução, ornamentando com insondáveis maravilhas” David F. Farias, estudante rosacruz.

E nas maravilhas da natureza encontramos inserida a Mandala que, revela por sua beleza, colorido e complexidade o ponto de ligação com o Divino. Através dos seus desenhos e de suas cores, somos induzidos às sensações que levam à concentração e à meditação.

Por ser uma representação geométrica da dinâmica relação entre o Homem e a Natureza, com a sua montagem o Cósmico ou a Energia da Criação se revela ao mesmo tempo em que, revelamos e fazemos a transformação do nosso ser interior.

A palavra mandala é originária do idioma sânscrito, cujo significado é circulo. Sua forma é simples, tendo a sua formação sempre a partir de um ponto central, um centro, simétrica, com pontos cardeais; se apresentam em imagens circulares, configurando um espaço sagrado. Universalmente a Mandala é o símbolo da totalidade, integração e harmonia.

Sua utilização na nossa vida abrange uma variedade de campos desde a decoração até no despertar místico-intelectual.

Carl Jung, psiquiatra suíço, a considerava ‘particularmente um círculo mágico’ e as utilizava para trabalhar com seus pacientes, ‘buscando nas diferentes figuras o significado e as explicações para os seus arquétipos da personalidade’ (Mirian Palmeira. Estudante rosacruz.).

A mandala obedece a Lei do Centro, um princípio básico na natureza. Onde o ‘centro é uma fonte de poder e energia, sabedoria e vida’ (Loretta C. Williams, estudante rosacruz.), e esse fluxo de energia é constante e sempre se renovando. Em todas as coisas e seres existe esse centro, de onde a vida se manifesta e se irradia para o exterior em formas criativas e belas, depois para ela retorna.

Não se sabe precisamente quando surgiu. Ela foi usada por todos os povos da antiguidade, não podendo se fixar uma data para o seu aparecimento, nem mesmo prever a sua origem. Dizem que as mandalas são tão antigas quanto à humanidade e que, se tornou ‘uma linguagem universal que unifica os seres numa só fraternidade’ (Loretta), se encontrando dentre os símbolos considerados universais, como a cruz, a pirâmide, o pentagrama etc.

Olhos bem treinados conseguem enxergar mandalas ao seu redor, na natureza e nas coisas criadas pelo homem. Estão presentes nos desenhos dos fogos de artifícios, nas flores, nas células, nos nossos olhos, na teia da aranha, no corpo humano e no universo afora.

O homem, co-Criador do nosso mundo, em muitas das suas obras às fez se manifestarem e estarem presentes: estão nas janelas de vidros coloridos das catedrais góticas, nas arquiteturas circulares dos templos e mesquitas, nas tendas dos índios e sua distribuição em círculo formando a aldeia, na estrela de Davi, nas pirâmides etc. Em diversas catedrais as mandalas foram utilizadas para criarem um ambiente sagrado e especial. Diversos templos usam a geometria sagrada e a forma circular, em suas construções e assim, estabelecem uma aura protetora e exclusiva para o lugar. 

Uma imaginação desenvolvida, mais um pouco de paciência consegue-se desenhar no papel belas imagens multicoloridas de diversas formas. As mandalas podem ser modeladas em madeira ou gesso, dançadas (as danças circulares) e os mais afortunados podem tê-las em seus sonhos.

Dizemos que a energia emanada do centro da mandala é constante e sempre se renova. Assim como Deus recria o universo a todo instante reinventado as suas criaturas, nos diz que nada é para sempre ou eterno. O mundo que conhecemos, do qual somos parte, obedece a ciclos que, como os círculos se iniciam e se fecham e novamente se iniciam e se findam em uma sucessão cíclica. A natureza é o exemplo clássico, as estações nas quais a vida vegetal ritualisticamente se comporta, se desenvolvendo, reproduzindo, adormecendo e renascendo a cada ano.

Dá-se a esse estado de mudanças no nosso mundo, o nome de Impermanência das coisas.

Os monges tibetanos demonstram a muito bem a impermanência com seus ensinamentos. Exímios criadores de mandalas feitas com areias coloridas, desenhadas no chão que, pacientemente as elaboram exuberantes, nelas trabalham ritualisticamente com amor, com atenção redobrada, com muito cuidado e muito esforço durante um longo tempo meditativo. Tradicionalmente elas são destruídas depois de prontas e a areia é jogada em um rio para que as bênçãos se espalhem. A mandala é desfeita em uma cerimônia para demonstrar a Lei Divina da Impermanência, de que nada permanece e tudo muda a todo instante. Tal procedimento também simboliza uma grande virtude que, devemos cultivar: o desapego às coisas que achamos nos pertencer sem levar em conta a nossa transitoriedade.

“Uma árvore em flor fica despida no outono. A beleza transforma-se em feiúra, a juventude transforma-se em velhice e o erro transforma-se em virtude. Nada fica sempre igual e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente”, S.S. Dalai Lama, e nos dá um exemplo “Certas pessoas doces e atraentes, fortes e saudáveis, morrem muito jovens. São mestras do disfarce ensinando-nos sobre a impermanência”.

Como sugestão, digo que colorir mandalas envolve você em um sutil e harmonioso equilíbrio. O encontro com as cores, a expressão dos números, formas e símbolos mágicos e sagrados, levam você ao natural encontro com você mesmo, num mergulho silencioso e mágico. É uma atividade prática que favorece a reflexão, a criatividade, a intuição e a expressão artística pessoal.

Lembre-se, não procure muitas explicações, toda mandala é uma viagem ao desconhecido.

(texto publicado em maio de 2011, no jornal 'Tá na Mão' - Fernandópolis -SP)



sábado, 21 de janeiro de 2012


DOMINGO

I

Domingo de todos os sinos
De todos os fiéis,
Igrejas, mesquitas, sinagogas.
Domingo da cidade vazia
Com os personagens em suas casas,
Casas vazias e personagens vazios.
Domingo de sossego e alegria.
Domingo nada mais que um dia.

Domingo que tem a força
De ser sentido na segunda,
Medido com amargura
Pela força do amanhã
Ser uma nova segunda-feira.

Domingo tem cheiro
Diferente de uma grande alegria
Pois é domingo,
Domingo de caminhar pelo campo
Domingo de vagar pela praça
De sentar vazio no banco
Olhar indiferente para o coreto
Vazio de espera.
Domingo tão denso é
Que dá vontade
De flutuar
Em pensamento.

(do livro Catavento / Celso Antonio dos Santos / 2012)


domingo, 15 de janeiro de 2012



Baixando um arquivo carregado de saudades da memória.

O Jogo


            Sempre digo que jogos de bola (não de futebol) bons foram aqueles da nossa infância. Havia lealdade que só as crianças sabem ter, jogo limpo, todos éramos craques, mas ninguém queria ser o goleiro.
            Os jogos do passado povoam a nossa memória. Os campinhos não existem mais, foram tomados pelas construções.
            Apesar da simplicidade de todos, valia querer imitar os ídolos da época. Ficava difícil a distribuição dos nomes entre nós, quando tudo se acertava a seleção do Brasil entrava em campo.
            O horário da partida era a qualquer hora, às vezes sofríamos com um sol do meio dia ou com o escuro do começo da noite, não importava. Aquilo que chamávamos de jogo ou pelada era disputada no chão de terra batida ou solta, tenho a impressão que fomos os inventores do futebol na areia. Bastava bater aquela vontade de correr atrás da bola que estava estabelecido um novo campeonato estadual, nacional ou mundial.           
          Alguns jogos duravam quase uma eternidade, como não tínhamos relógio muito menos um cronômetro (que conhecíamos de nome pelo rádio). Algumas vezes o final era determinado pela quantidade de gols do placar bem elástico, exemplo: quem chegasse ao décimo gol ganhava a partida, cujo término se daria naquele exato momento. A “morte súbita”.
            Várias partidas terminaram bem antes do estabelecido, ninguém aguentava tanta correria debaixo de tanto sol. Outro motivo era porque jogávamos bem, muito bem mesmo, bem até demais, então era difícil serem marcados os gols exigidos em defesas recheadas de craques, era um verdadeiro exagero chegar ao gol de número dez.
            Quanto à saúde dos futuros atletas, aqueles jogos serviram para preparação dos que seriam os craques do futuro, que por sinal não ‘vingou’ nenhum.
             Ninguém se machucava. Causa-me espanto hoje lembrando as lambanças, durante anos não houve nem dedo, nem pé nem perna quebrados, só jogávamos descalços. Nada de gripe, insolação, nadinha de nada, só algumas vidraças quebradas e bolas furadas, pois não aguentavam tantos ‘bons de bola’ juntos numa mesma partida. Mas, pensando bem acho que elas não eram fortes o bastante para tantos bicudos que, as faziam estalar.
            Outras coisas: não havia platéia. Não tinha juiz, nem apito, Nunca bandeirinhas. Só futebol, bola e alegria, quase todos os dias, com sol ou com chuva.
            As pessoas que mais sofreram com os tais jogos, com toda certeza, foram nossas mães que quase tinham um ataque quando viam os nossos estados deploráveis, nossas roupas sujas, imundas ou precisando de um remendo. Havia uma lenda que dizia que, algumas, às vezes não reconheciam o filho debaixo de tanta terra grudada na pele e os punha para fora de casa a vassourada.
            Essas partidas são verdadeiros arquivos em vídeo coloridos em nossas memórias, armazenadas para a eternidade dentro de cada um de nós de forma nostálgica e feliz.




quinta-feira, 5 de janeiro de 2012


O quadro

Um copo de bebida sobre a mesa
Repousando ao seu lado
Uma flor e uma carta.

É uma figura dentro da gravura
Perdida e esmaecida
Procurando explicações
Para coisas que vem do coração.

Se sente perdido dentro da pintura
Colocada na mesa de frente
Para a rua da saudade.

 Da flor consegue sentir o perfume
Saber a cor e a textura
Da carta fechada lacrada
Não sabe o que contém
Mas um alerta lhe diz
Que é uma má noticia aguardada.

Não se arrisca
Sair da gravura em que está
Prefere ficar quieto como a paisagem
A ela mistura num doce encanto
De que se está perdido.

Pega a flor e a coloca no bolso
Pega a carta e a dobra
E a deixa exposta sobre a mesa
Prefere a certeza de não saber
E sai de cena tranquilo
Deixando a pintura sem cor.

Igual a uma rosa vermelha
Entre outras rosas vermelhas
Estamos todos esperando
Perdidos entre folhas e espinhos.
Esperando sempre alguma coisa

(Celso Antonio dos Santos. 
janeiro de 2012.)