Mandalas e a
Impermanência
“Quando, no enlevo da contemplação observamos extasiados, o
Grande Pintor do Universo pintando com infinitas variedades a Tela da Natureza,
como a conduzir a nossa infantil admiração, sentimos que o Mestre dos Mestres
está nos ensinando o caminho da evolução, ornamentando com insondáveis maravilhas”
David F. Farias, estudante rosacruz.
E nas maravilhas da natureza encontramos inserida a Mandala
que, revela por sua beleza, colorido e complexidade o ponto de ligação com o
Divino. Através dos seus desenhos e de suas cores, somos induzidos às sensações
que levam à concentração e à meditação.
Por ser uma representação geométrica da dinâmica relação
entre o Homem e a Natureza, com a sua montagem o Cósmico ou a Energia da
Criação se revela ao mesmo tempo em que, revelamos e fazemos a transformação do
nosso ser interior.
A palavra mandala é originária do idioma sânscrito, cujo
significado é circulo. Sua forma é simples, tendo a sua formação sempre a
partir de um ponto central, um centro, simétrica, com pontos cardeais; se
apresentam em imagens circulares, configurando um espaço sagrado. Universalmente a Mandala é
o símbolo da totalidade, integração e harmonia.
Sua utilização na nossa vida abrange uma variedade de campos
desde a decoração até no despertar místico-intelectual.
Carl Jung, psiquiatra suíço, a considerava ‘particularmente
um círculo mágico’ e as utilizava para trabalhar com seus pacientes, ‘buscando
nas diferentes figuras o significado e as explicações para os seus arquétipos
da personalidade’ (Mirian Palmeira. Estudante rosacruz.).
A mandala obedece a Lei do Centro, um princípio básico na
natureza. Onde o ‘centro é uma fonte de poder e energia, sabedoria e vida’
(Loretta C. Williams, estudante rosacruz.), e esse fluxo de energia é constante
e sempre se renovando. Em todas as coisas e seres existe esse centro, de onde a
vida se manifesta e se irradia para o exterior em formas criativas e belas, depois
para ela retorna.
Não se sabe precisamente quando surgiu. Ela foi usada por
todos os povos da antiguidade, não podendo se fixar uma data para o seu
aparecimento, nem mesmo prever a sua origem. Dizem que as mandalas são tão
antigas quanto à humanidade e que, se tornou ‘uma linguagem universal que
unifica os seres numa só fraternidade’ (Loretta), se encontrando dentre os
símbolos considerados universais, como a cruz, a pirâmide, o pentagrama etc.
Olhos bem treinados conseguem enxergar mandalas ao seu
redor, na natureza e nas coisas criadas pelo homem. Estão presentes nos
desenhos dos fogos de artifícios, nas flores, nas células, nos nossos olhos, na
teia da aranha, no corpo humano e no universo afora.
O homem, co-Criador do nosso mundo, em muitas das suas obras
às fez se manifestarem e estarem presentes: estão nas janelas de vidros
coloridos das catedrais góticas, nas arquiteturas circulares dos templos e mesquitas,
nas tendas dos índios e sua distribuição em círculo formando a aldeia, na
estrela de Davi, nas pirâmides etc. Em diversas catedrais as mandalas foram utilizadas
para criarem um ambiente sagrado e especial. Diversos templos usam a geometria
sagrada e a forma circular, em suas construções e assim, estabelecem uma aura
protetora e exclusiva para o lugar.
Uma imaginação desenvolvida, mais um pouco de paciência
consegue-se desenhar no papel belas imagens multicoloridas de diversas formas.
As mandalas podem ser modeladas em madeira ou gesso, dançadas (as danças
circulares) e os mais afortunados podem tê-las em seus sonhos.
Dizemos que a energia emanada do centro da mandala é
constante e sempre se renova. Assim como Deus recria o universo a todo instante
reinventado as suas criaturas, nos diz que nada é para sempre ou eterno. O
mundo que conhecemos, do qual somos parte, obedece a ciclos que, como os
círculos se iniciam e se fecham e novamente se iniciam e se findam em uma
sucessão cíclica. A natureza é o exemplo clássico, as estações nas quais a vida
vegetal ritualisticamente se comporta, se desenvolvendo, reproduzindo,
adormecendo e renascendo a cada ano.
Dá-se a esse estado de mudanças no nosso mundo, o nome de
Impermanência das coisas.
Os monges tibetanos demonstram a muito bem a impermanência
com seus ensinamentos. Exímios criadores de mandalas feitas com areias
coloridas, desenhadas no chão que, pacientemente as elaboram exuberantes, nelas
trabalham ritualisticamente com amor, com atenção redobrada, com muito cuidado
e muito esforço durante um longo tempo meditativo. Tradicionalmente elas são
destruídas depois de prontas e a areia é jogada em um rio para que as bênçãos
se espalhem. A mandala é desfeita em uma cerimônia para demonstrar a Lei Divina
da Impermanência, de que nada permanece e tudo muda a todo instante. Tal
procedimento também simboliza uma grande virtude que, devemos cultivar: o desapego
às coisas que achamos nos pertencer sem levar em conta a nossa transitoriedade.
“Uma árvore em flor fica despida no outono. A beleza
transforma-se em feiúra, a juventude transforma-se em velhice e o erro
transforma-se em virtude. Nada fica sempre igual e nada existe realmente.
Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente”, S.S. Dalai Lama, e
nos dá um exemplo “Certas pessoas doces e atraentes, fortes e saudáveis, morrem
muito jovens. São mestras do disfarce ensinando-nos sobre a impermanência”.
Como
sugestão, digo que colorir mandalas envolve você em um sutil e harmonioso
equilíbrio. O encontro com as cores, a expressão dos números, formas e símbolos
mágicos e sagrados, levam você ao natural encontro com você mesmo, num mergulho
silencioso e mágico. É uma atividade prática que favorece a reflexão, a
criatividade, a intuição e a expressão artística pessoal.
Lembre-se,
não procure muitas explicações, toda mandala é uma viagem ao desconhecido.
(texto publicado em maio de 2011, no jornal 'Tá na Mão' - Fernandópolis -SP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário