Baixando um arquivo carregado
de saudades da memória.
O Jogo
Sempre digo
que jogos de bola (não de futebol) bons foram aqueles da nossa infância. Havia
lealdade que só as crianças sabem ter, jogo limpo, todos éramos craques, mas
ninguém queria ser o goleiro.
Os jogos do
passado povoam a nossa memória. Os campinhos não existem mais, foram tomados
pelas construções.
Apesar da
simplicidade de todos, valia querer imitar os ídolos da época. Ficava difícil a
distribuição dos nomes entre nós, quando tudo se acertava a seleção do Brasil
entrava em campo.
O horário
da partida era a qualquer hora, às vezes sofríamos com um sol do meio dia ou
com o escuro do começo da noite, não importava. Aquilo que chamávamos de jogo
ou pelada era disputada no chão de terra batida ou solta, tenho a impressão que
fomos os inventores do futebol na areia. Bastava bater aquela vontade de correr
atrás da bola que estava estabelecido um novo campeonato estadual, nacional ou
mundial.
Alguns jogos duravam
quase uma eternidade, como não tínhamos relógio muito menos um cronômetro (que conhecíamos
de nome pelo rádio). Algumas vezes o final era determinado pela quantidade de
gols do placar bem elástico, exemplo: quem chegasse ao décimo gol ganhava a
partida, cujo término se daria naquele exato momento. A “morte súbita”.
Várias
partidas terminaram bem antes do estabelecido, ninguém aguentava tanta correria
debaixo de tanto sol. Outro motivo era porque jogávamos bem, muito bem mesmo,
bem até demais, então era difícil serem marcados os gols exigidos em defesas
recheadas de craques, era um verdadeiro exagero chegar ao gol de número dez.
Quanto à
saúde dos futuros atletas, aqueles jogos serviram para preparação dos que
seriam os craques do futuro, que por sinal não ‘vingou’ nenhum.
Ninguém se machucava. Causa-me espanto hoje
lembrando as lambanças, durante anos não houve nem dedo, nem pé nem perna
quebrados, só jogávamos descalços. Nada de gripe, insolação, nadinha de nada,
só algumas vidraças quebradas e bolas furadas, pois não aguentavam tantos ‘bons
de bola’ juntos numa mesma partida. Mas, pensando bem acho que elas não eram
fortes o bastante para tantos bicudos que, as faziam estalar.
Outras
coisas: não havia platéia. Não tinha juiz, nem apito, Nunca bandeirinhas. Só
futebol, bola e alegria, quase todos os dias, com sol ou com chuva.
As pessoas
que mais sofreram com os tais jogos, com toda certeza, foram nossas mães que
quase tinham um ataque quando viam os nossos estados deploráveis, nossas roupas
sujas, imundas ou precisando de um remendo. Havia uma lenda que dizia que,
algumas, às vezes não reconheciam o filho debaixo de tanta terra grudada na
pele e os punha para fora de casa a vassourada.
Essas
partidas são verdadeiros arquivos em vídeo coloridos em nossas memórias,
armazenadas para a eternidade dentro de cada um de nós de forma nostálgica e
feliz.
Ah, vc escreve tao bem com tamanha simplicidade que me fez voltar ao tempo e ver meu irmao jogando exatamente assim... e voltando para casa todo sujo! Parabens Celso! Adoro suas cronicas.
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