sábado, 19 de novembro de 2011



O LIVRO DO DESTINO


Você já ouviu: quando nascemos somos um livro de páginas em branco a serem preenchidas. Ou, tudo está devidamente escrito, mas alteraremos no uso do livre arbítrio. Ou, nada sabemos, somos uma tábua rasa, aprenderemos.

Ou como no filme ‘Os agentes do destino’: o livro está escrito, os caminhos foram criados pelo Divino, e Este e os seus agentes ‘anjos’ poderão se necessário, redesenhá-lo.

O Livro do Destino é uma metáfora nos ensinamentos de diversas tradições que transmitem valores positivos.

O buscador sincero sabe que a alma humana não pode se desvincular do seu destino cósmico. Há o decreto divino: a todo instante é nosso dever buscar aproximarmos da Perfeição, da Inteligência Divina. Levaremos diversas vidas para atingi-la, mas teremos que alcançar tal estado, queira ou não. Tal empreitada é difícil, no desenrolar da vida ‘temos o direito e o dever de escolher o caminho que tornará esse retorno possível’ (Christian Bernard, estudante rosacruz). Agindo com retidão estaremos aptos a ‘aplicar positivamente nosso livre-arbítrio às situações que se apresentam diariamente na nossa existência’. Escreveremos assim as páginas de uma história feliz.

Malba Thahan (Júlio César de Mello e Souza) nos legou um conto maravilhoso, verdadeira parábola: ‘O Livro do Destino’ no seu livro ‘Céu de Allah’.

...O narrador encontra perto de Damasco um velho árabe, chama-lhe a atenção o modo como ele falava aos mercadores e peregrinos. Gesticulava e praguejava sem parar. Quando censurado, exclamava ‘apertando entre as mãos o turbante esfarrapado: Mak Allah! Ó muçulmanos! Eu já fui poderoso! Eu já tive o Destino nesta mão!’

Ninguém acreditava, tomavam-no por louco. Ele era de difícil trato, irascível, mas com jeitinho e ternura o nosso narrador ganhou a sua confiança. E ele contou-lhe:

‘Segundo o Corão’... No grande Livro do Destino há uma página para cada ser humano com tudo de bom ou mal que irá lhe acontecer. Aliás, tudo está escrito nele, um registro da vida de todos e de tudo sobre a Terra, ‘desde o cair de uma folha seca até a morte de um califa’.

Certa vez salvei um feiticeiro das mãos de impiedoso beduíno e como recompensa deu-me uma pedra negra, pequeníssima, um talismã raríssimo que permitia a entrada livre ‘na gruta da Fatalidade’ onde se encontra o Livro do Destino.

Durante anos viajei até o alto da montanha de Masirah, local da gruta, guardada por um gênio bondoso que vendo o talismã me deixou entrar, podendo ficar lá alguns minutos.

E eis o Livro, bastava acrescentar na minha página ‘será um homem feliz, estimado por todos, terá muita saúde e dinheiro’.  Mudaria minha vida. Contudo, aventurei a olhar as páginas de meus desafetos e movido ‘pelos mais torpes sentimentos’ de ódio e vingança, acrescentei às suas páginas meu desejo de infelicidade, doenças e tormentos.

‘E na tua vida?’ perguntou o narrador, ‘acrescentou tudo de bom que querias?’

Preocupado ‘semeando infortúnios’ aos outros esqueci inteiramente de mim, quando me dei conta, tinha vencido o tempo, retiraram o talismã e fui atirado para fora da gruta. E hoje sou o que sou!...

Caro amigo, como se dedica a escrever a sua página no Livro da Vida? Cuidas bem de você ou estás preocupado em demasia com a vida dos outros?

(texto publicado no jornal Tá na Mão, Fernandópolis, SP, 19/11/2011)




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