quarta-feira, 18 de abril de 2012


                                                                                          (Urânia - SP)
SAUDADE...

Mestre Aurélio, por favor, pode definir o que é Saudade?

- Lembranças tristes e suaves de pessoas ou coisas que ficaram para trás, e, que gostaríamos de vê-las ou possuí-las de novo.

Era uma madrugada amena, tinha despertado e ido ao banheiro. De novo deitado procurava reconciliar o sono interrompido. Um apito agudo de trem se encarregou de me despertar de vez. Ao mesmo tempo em que, voltava à consciência comum, fui arrastado ao passado. O apito era do trem e trazia lembranças de tempos idos.

Nasci à beira de uma estrada de ferro, meu pai era ferroviário da Estrada de Ferro Araraquarense. Minha evolução de bebê a adulto, passando de criança a adolescente, transcorreu ao lado do leito da ferrovia, nunca morei, até hoje, a mais de trezentos metros dela.

O apito que ouvi, mais parecia um grito de agonia da velha ferrovia que parece aos poucos se acabar. Lembrei-me das viagens no trem de passageiros, era ele que movimentava a massa humana de um lugar para outro. Eram pessoas que atuavam em diversas histórias, de vários enredos, nas páginas e mais páginas da vida.

O trem transportava os sonhos, alegrias e tristezas, sempre deixando um rastro metálico de saudades nas paralelas dos trilhos que nunca se encontravam e que, ligavam destinos.

O apito do trem que ouvi, não mais transporta os passageiros saudosos e insones, mas cargas que vem do Centro-Oeste do Brasil que tem como destinos várias partes do Planeta. É o progresso, dizem.

Ainda hoje gosto de caminhar sobre os dormentes da linha férrea, porque dá um caminhar vacilante, pois não são de espaçamentos iguais, diversas vezes tenho que refazer o compasso do passo, acertando o andar, como nas situações da vida diária.

É preciso ver que a vida não pode ficar só na estação da saudade. Saudades são lembranças doces ou amargas que ficaram pelo caminho da estrada de ferro do tempo, que às vezes vamos visitar com o coração alegre, sentados numa poltrona da primeira classe.

(Crônica publicada em agosto de 2006 no ‘Informativo CN’ nº. 2, da cidade de Urânia SP)

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