A vida profissional de uma pessoa reflete nas suas vidas
física, mental e social.
A maioria das pessoas não está contente com aquilo que faz, seja
pelo salário ou pelo serviço. Esta parece ser uma norma geral beirando a verdadeira.
Dificilmente encontramos uma pessoa que ame realmente sua profissão,
exercendo-a com dedicação e sendo feliz. E todos nós sabemos que somente será
produtivo, próspero e feliz aquele que trabalha com amor àquilo que executa.
Talvez uma solução para acabar momentaneamente o desconforto,
seja a aplicação dentro da jornada exaustiva um período de merecido descanso, um
intervalo de descontração ou uma fuga mesmo. Quando deve ser deixado de lado todo
pensamento relativo ao que está se fazendo e tomar um rumo diametralmente
oposto, se afastando, evitando um grande desgaste físico e mental pela
constância. Uma quebra abrupta na rotina. Procedimento já adotado em algumas
empresas, estabelecendo um pequeno repouso para que os funcionários recuperem
as suas energias.
Para a fuga, uma antiga narrativa de Malba Taham serve para ilustrar
um exemplo: basicamente todo filósofo é um pescador e todo pescador é um
filósofo. Duas profissões distintas e opostas uma a outra. Aquele que é
filósofo usa muito o cérebro, deve ir pescar para se descontrair, e todo
pescador que usa muito o seu corpo físico no trabalho deve se sentar à beira do
rio e meditar, filosofar, assim recuperando o equilíbrio existencial e harmonia
na vida.
É a pura verdade. Diz um grande sábio: ‘quando me sinto
fatigado de ler e ouvir os filósofos, de analisar, letra a letra, os
ensinamentos dos Inspirados, as sentenças dos doutores, os hadis do Profeta,
tomo de minha rede, dos meus apetrechos de pesca, e vou, com meu filho mais
moço, até o rio fazer um pouco de pescaria. Procuro repouso, para o meu
conturbado espírito, tornando-me um pescador. A pesca é, para mim,
tranquilidade e paz. Esqueço, por momentos, os problemas torturantes da alma,
as inquietações da dúvida....o pescador, absorto na sua faina, não sente passar
o tristonho da vida...a vida mais vivida...não é a vida do filósofo é a vida do
pescador.’
Assim fica explicado que todo filósofo é um pescador, mas
como fica a situação inversa, o pescador é um filósofo? Um grande pescador
responde: ‘Mas nada há, nem pode haver, de estranho no fato de um pescador ser
filósofo. Muitas e muitas vezes, quando me sinto cansado de pescar, o corpo
dolorido pela faina, largo a minha pesada rede, as minhas linhas, a caixa com
iscas, e vou até à Mesquita Otman ouvir as lições dos ulemás que ensinam
filosofia e debatem os graves problemas do Ser e do Não-Ser. Procuro repousar
para a fadiga do meu corpo, tornando-me um filósofo. A filosofia é para mim,
tranquilidade e paz. Esqueço, por um momento, os problemas e tropeços de minha
vida de pobre, e ponho-me a filosofar. ’ A vida se torna agradável nestes
momentos não a sentindo passar, completa ele, ‘a vida mais bem vivida, mas
sentida, é a meu ver, não a vida serena do pescador, mas a vida intensa do
filósofo’.
Ambos os personagens procuram a forma de viver do outro para
encontrar descanso, lazer, fugindo das dificuldades encontradas em suas
profissões. É uma pausa que reabastece e revigora o corpo e a mente cansados. Vivem
assim a vida por inteiro, trabalhando, comungando e apreciando o que ela revela
de belo da Criação e que sacia a fome de viver de maneira inteligente e em paz.
‘A vida mais bem
vivida terá aquele que viver na Paz, no Dever e no Amor, isto é, aquele que viver
na Verdade de Deus!’ (Malba Thahan).
(Publicado no jornal 'Tá na Mão' de Fernandópolis, SP, edição de 24 de março de 2012)
Muito inteligente..
ResponderExcluirGostei!