segunda-feira, 31 de outubro de 2011


CASA DE VIDRO


Entre em casa, feche todas as portas,
Ande pela sala, feche todas as janelas.
Passeie pelos quartos
Estanque todas as suas emoções.

O mundo acontece lá fora, e de nós.
Será que eu preciso acontecer?
O mundo faz e traz as notícias ruins e boas,
Que lemos nos jornais e vemos nas  tevês.
Somos obrigados a fazer acontecê-las dentro de nós?

Moro em uma casa de vidro,
Está translúcida, está opaca, embaçada,
Manchada pela poeira que cobre o mundo.
Já não consigo ver as belezas do planeta,
Já não consigo sentir o calor do sol
Filtrado irregularmente pelos vitrais.

Moro em uma casa de vidro,
Um labirinto hermeticamente fechado,
Trancado pela força dos quatro elementos.
Tento me proteger.
Mesmo assim o mundo exterior flui
Para dentro. Não há como fugir.
Melancolicamente espero separar o joio do trigo.
Pôr sobre a mesa aquilo que me fortaleça.
Encontrar o elo perdido da leitura,
Que foi excluída, banida
E posta na prateleira
Dos livros proibidos, por serem sábios demais.

Moro em uma casa de vidro,
Com alarme, cerca elétrica, câmeras de vídeos.
Fico perdido na imensidão da solitária,
Cercado pela vastidão dos informes diários.
Notícias dos jornais, revistas, internet.
Terei que ser monástico, fechando as portas
Internas e externas do meu ser para a tribo global?

Seria isto o apocalipse individual.
Ou, devo mudar-me para longe? Viver livre,
Ao pé de algum monte, cercado de verde, flores e animais,
Sentindo o cheiro do chá mate na xícara,
Saborear o pãozinho quente com margarina,
Sentir em paz comigo, com os vizinhos e com o mundo.
...Que hão de proteger...
A mim e os meus sonhos.
E haveremos de proteger
A nós e ao mundo.

O menino que mora dentro mim
Com seus dedinhos desenhou um círculo
No vidro da janela do meu coração.
A grandeza do mundo adentrou,
Desenhando no chão um espectro de luz.
O olhar curioso do homem que habita em mim,
Vislumbrou lá fora o pôr-do-sol.
E viu que o mundo conturbado ainda é bonito,
E viu que o mundo maculado ainda é puro,
Que as pessoas carregam dentro de si a esperança,
O sorriso e muita força para a luta. Ele viu
Que junto á fumaça cinzenta,
Ainda existem arcos-íris de sentimentos puros
E muito humanos.


Embora minha casa de vidro seja frágil,
O homem que habita em mim,
Precisa olhar com os olhos do coração,
E escutar com a alma este mundo agonizante!
Ser suficientemente forte e capaz de lutar,
Para que haja PAZ
Dentro e fora da casa.


(in livro: "Porteiras", Editora CBJE, pgs. 29 e 30, maio de 2010) 


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